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Rio sofre com arenas caras e vazias um ano após os Jogos Olímpicos

Complexo de Deodoro está fechado à população e Parque Olímpico tem eventos esporádicos

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Foto do author Marcio Dolzan
Por Marcio Dolzan
Atualização:

Mais do que um contratempo, a perda da chave que servia para abrir um dos portões do Engenhão na primeira disputa dos Jogos Olímpicos do Rio, em 3 de agosto do ano passado, acabou sendo representativa: a Olimpíada seria uma festa linda, mas as instalações esportivas ainda dariam muita dor de cabeça. Um ano depois, o governo federal e a cidade do Rio de Janeiro tentam manter em uso equipamentos esportivos grandes, caros e que passaram a maior parte dos últimos meses vazios ou fechados – a síntese do que se convencionou chamar de “elefantes brancos”.

O portão sem chave do Engenhão, um ano atrás, teve solução rápida e prosaica. Ele foi aberto em minutos com a ajuda de um alicate do Corpo de Bombeiros. Já as instalações olímpicas que compõem o Parque Olímpico da Barra, na zona oeste do Rio, e o Parque Radical, na zona norte da cidade, passaram a maior parte do ano fechadas.

Canal de canoagem slalom um ano após a Olimpíada do Rio Foto: Fabio Motta|Estadão

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O caso mais emblemático é o do Parque Radical. Prometido para ser uma área de lazer à população da região mais pobre da cidade, além de ser uma opção para treinamento de atletas da canoagem slalom e do ciclismo BMX, o local está fechado desde dezembro. Imagens feitas pelo Estado na terça-feira mostram que as águas do lago artificial construído para os Jogos estão totalmente turvas. Mesmo assim, a manutenção do parque consome R$ 750 mil todos os meses dos cofres municipais.

“É um equipamento complexo, caríssimo, de difícil manuseio, com 500 mil metros quadrados de área e uma corredeira de 30 milhões de litros de água”, informou em nota a secretaria de Esportes do Rio. “Recebemos o Parque Radical fechado, sem contrato de gestão e, o mais importante, sem orçamento previsto para mantê-lo.”

A assessoria do ex-prefeito Eduardo Paes (PMDB) contesta o fechamento do local. “Não há explicação para que o Parque Deodoro esteja fechado. O espaço foi inaugurado em dezembro de 2015 e funcionou plenamente até o fim da gestão passada”, disse, em nota.

As instalações olímpicas na área militar de Deodoro, ao lado do Parque Radical, funcionam, mas ainda estão à espera de reformas prometidas há meses. O local já comportava os Centros de Tiro, Hipismo, Hóquei sobre Grama e o Centro Aquático de Pentatlo Moderno – instalações que foram reformadas para a Olimpíada –, e ganhou ainda a Arena da Juventude. As obras de readequação das arenas, conhecidas como retrofit, no entanto, ainda não foram realizadas.

“Até a presente data as avarias sob responsabilidade do Comitê Rio-2016 não foram reparadas”, informou o coronel Aurelio da Silva Bolze, declarando ainda que “o comitê informa que não dispõe de recursos para efetivar os reparos necessários.” Ao Estado, o Rio-2016 confirmou as pendências e informou que “está em negociações” com o Exército. As reformas estão avaliadas em cerca de R$ 1,6 milhão.

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As instalações esportivas de Deodoro são administradas com recursos do Ministério do Esporte. De acordo com a pasta, foi celebrado “um Termo de Execução Descentralizada (TED) no valor de R$ 35,8 milhões para serem investidos na manutenção e na administração” das arenas.

Parque Olímpico. Naquele que ficou conhecido como “o coração dos Jogos”, a falta de utilização não é muito diferente, apesar do esforço da Autoridade de Governança do Legado Olímpico (Aglo) em manter a área em funcionamento.

O Parque Olímpico da Barra só é aberto à população aos finais de semana. As arenas que estão sob gestão do Ministério do Esporte – Arenas Carioca 1 e 2, Velódromo e Centro de Tênis – vêm sendo ocupadas timidamente desde fevereiro e sua manutenção está orçada em R$ 45 milhões para este ano. As instalações a cargo da prefeitura do Rio estão praticamente sem nenhum uso.

O maior exemplo é a Arena do Futuro, palco do handebol nos Jogos do Rio. Antes da Olimpíada, a promessa era de que ela seria desmontada e transformada em quatro escolas. Até hoje, porém, a construção se mantém de pé, vazia e sem previsão de desmonte. A alegação é falta de recursos. “A viabilidade dessa iniciativa ainda está sendo avaliada. No momento, a prioridade da prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Educação, é finalizar 30 Escolas do Amanhã e recuperar as antigas unidades que necessitam de reforma”, informou a assessoria do atual prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB).

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A gestão anterior, por sua vez, cita falta de “vontade política” da atual administração municipal. “Até agora, não foi sequer aberto o processo de licitação para a transformação da Arena 3 em uma escola municipal; (nem mesmo para) a desmontagem da Arena do Futuro para a construção de quatro escolas e a desmontagem do aquático para a construção de duas piscinas olímpicas”, criticou, por meio de sua assessoria.

O Estádio Aquático teve suas piscinas retiradas pelo Exército, mas a estrutura externa permanece de pé. E poderá permanecer assim até o fim do ano.

No domingo, parte da cobertura do Velódromo pegou fogo, e o piso de madeira siberiana foi danificado. A construção consumiu R$ 143 milhões em recursos públicos, não tem seguro e gasta cerca de R$ 200 mil em energia elétrica todos os meses. A polícia investiga as causas do incêndio, atribuído previamente à queda de um balão.

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